20060621

A Ida

De Senectute


"Lysandrum Laecedaemonium, cuius modo mentionem feci, dicere aiunt solitum, Lacedaemone esse honestissimum domicilium senectutis. Nusquam enim tentum tribuitur aetati, nusquam est senectushonoratior. Quin etiam memoriae proditum est quam Athenis, ludis, quidam in theatrum grandis natu uenisset in magno consessu locum nusquam ei datum a suis ciuibus; quum autem ad Lacedemonios accessisset,qui, legati quum essent, certo in loco consederant, consurrexisse omnes, et senem illum sessum recepisse.
Quibus quum a cuncto consessu palusus esset multiplex datus, dixisse ex iis quedam, Atenienses scire, quae recta essent, sed facere nolle."
Cicero, De Senectute - XVIII,63,64
...................................................Tradução.................................................
Dizem que o Lacedemónico [espartano] Lisandro, de quem há pouco fiz referência, tinha por costume dizer que o domicilio mais digno da velhice ficava na Lacedemónia [Esparta]. Com efeito, em ninhuma parte é concedido tanto [valor] à idade, em ninhuma parte a velhice é mais estimada [respeitada]. E até ficou na tradição, que como certo idoso tivesse vindo ao teatro em Atenas durante os jogos públicos em ninhuma parte na grande assembleia lhe foi dado um lugar pelos seus concidadãos, porem, como se tivesse aproximado dos Lacedemonicos [espartanos], os quais porque eram embaixadores, se tinham sentado em lugares reservados, todos se levantaram, receberam [o velho] e mandaram-no sentar.
Como se a estes tivesse sido dado um enorme aplauso por toda assembleia, um deles disse que os atenienses sabiam o que era correcto, mas que não queriam faze-lo.
Peço desculpa pela tradução mas não queria fugir muito a letra
Deixo-vos este fragmento de "De Senectute" para que reflictam na actualidade das palavras de Cícero...penso que é mais interessante, do que fazer um grande discurso moralista sobre o que as vezes vemos por estas ruas e afins!

20060604

MAGNA TEMPESTA - (grande tempestade)


Porque a Beleza te escolheu para se representar?
Porque o Belo te elegeu para se mostrar?
E eu; eu porque não ganho coragem para ocupar a teu lado um lugar?
Perguntava-me assim enquanto sonhava: estavas linda, reluzente por entre as buganvílias e as magnólias do jardim, flutuavas sobre a relva e o ambiente inundavas com o teu aroma suave de rosa fresca acabada de colher…

Segui-te, espionei-te sempre de longe, de longe para não perturbar a tua calma. Ali, encostado a um cipreste vi a lua roer-se de inveja do teu resplandecente brilho naquela noite, ali, vi-me morrer de inveja do champanhe que borbulhado te beijava os lábios e acordei… Só como sempre fui a te ao mar, o meu olhar tentou ultrapassar o horizonte, peguei numa nuvem e com as mãos, ali sobre um penedo, moldei um navio.

Coloquei o meu sonho no navio, e o navio sobre o oceano. Depois volvi o mar com as mãos, para o meu sonho naufragar…

O vento que vem vindo de longe vai chicoteando-me a cara, e a noite curvando-se de frio envolve-me no seu amorfo e reluzente manto. Debaixo das águas vai morrendo o meu sonho, vai morrendo dentro do navio… Chorarei quanto for preciso, para fazer com que as aguas aumentem e se revoltem e o meu navio chegue ao fundo e o meu sonho… o meu sonho desapareça…

Talvez, um dia quando vaguear pela praia de areia lisa e aguas calmas, com os meus olhos secos e as mãos quebradas pelo vento, quem sabe… quem sabe se não encontrarei destroços do meu navio…

20060603

VACUITAS


Quando aqui estou, tu… tu não estás, e quando te tento encontrar tu desapareces… refugiada do mundo caminhas lentamente por aí. Sempre nos cruzamos contigo, sempre te não vemos, sempre estás cá, sempre…sempre sem sabermos.

Pelo mundo paralelo do espelho procuro a tua presença… pelas gavetas do meu quarto procuro-te nos teus retratos… pelos locais por onde passamos procuro o teu rasto…. E que encontro?
Sabes!?
Que encontro eu?
A presença… a presença da tua ausência persegue-me, murmura por entre os arbustos do locais que passamos, sorri por entre os retratos que nunca te fiz e do outro lado do espelho… bem do outro lado daquele azul que são os meus olhos arranca e faz brotar a pureza de uma daquelas gostas salgadas que no seu percurso vem beijar os nossos lábios.

Onde estás!?
O desespero antecipa a pergunta… e ela… ela responde:
Aqui! Aqui estou, aquela que não está…

Murmura dissipando o silêncio, vagueia aumentando o vazio…e sempre, sempre de mãos dadas com a minha presença, ela… a tua ausência.